quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Ponto Final

Ponto Final (2005)


Branca Moura Machado

Quem vai assistir a um filme do Woody Allen já tem uma ideia preconcebida do que vai ver. Na maioria das vezes, o filme terá muitos diálogos, humor inteligente, tiradas interessantes e um personagem que, se não for interpretado pelo próprio diretor, será muito parecido com ele: falante, neurótico, cheio de manias. Ponto Final não lembra os filmes usuais do diretor, a não ser por seu brilhantismo.

Dirigido e roteirizado por Woody Allen, seu tema é a sorte e de como ela é fundamental em certos momentos de nossas vidas. No filme, ela é definidora e essencial. Mas, a meu ver, ele é também sobre o castigo. Não é à toa que Chris, personagem de Jonathan Rhys-Meyers, aparece lendo “Crime e Castigo” de Dostoievski. O castigo virá com o crime, independente de ele ser descoberto ou não.

A cena inicial mostra uma bola de tênis sendo rebatida de um lado para o outro da quadra até que finalmente ela atinge a rede e pode ou não passar para o outro lado. Tal cena é acompanhada por uma reflexão de Chris sobre a sorte e de como ela é essencial em um jogo e, claro, na vida. A partir daí, conhecemos a história de Chris, um ex-jogador de tênis que se muda para Londres para ser professor do jogo e acaba conhecendo Tom (Matthew Goode) e sua irmã Chloe (Emily Mortimer). Tom e Chloe são riquíssimos e possuem o estilo e a forma de vida que Chris sempre sonhou. Woody Allen mostra Chris fazendo compras em ícones do consumo sofisticado, Ralph Lauren, Cartier; o que serve para caracterizar as preferências do personagem e o tipo de vida que ele almeja.

A cena do jogo de Pingue-Pongue na qual Nola (Scarlett Johansson), namorada de Tom, convida Chris para jogar e ele pergunta: “No que eu estou me metendo?” Para, logo em seguida, fazer uma jogada arrasadora. E ela, então, pergunta de volta: “No que eu estou me metendo?” resume perfeitamente a relação dos dois a partir dali e antevê a enrascada em que ambos se meterão. Mais tarde, em um café, após Nola ter sido reprovada em sua audição, o “pingue-pongue” continua, durante o diálogo, Nola afirma para Chris que sabe o efeito que causa nos homens e Chris rebate com a seguinte pergunta: “onde é que estava essa confiança toda quando você foi fazer sua audição?”. Ao longo do filme, vamos acabar confirmando que Nola realmente não é tão confiante quanto parece. Aliás, é o contrário disso. Lola, em seu apartamento, comenta com Chris sobre os assaltos na vizinhança e que o apartamento da vizinha dela tem problemas com ratos. Sem perceber, ela elabora um plano para ele.

O filme realiza viradas surpreendentes e realmente lembra um jogo de tênis, em que hora o jogo está para alguém e, em outra, para outro, mas o ponto final será de um só deles.

A partir da última cena, podemos chegar a duas conclusões, se não contrárias, pelo menos conflitantes. Quando Tom comenta sobre o sobrinho recém nascido, desejando não que ele seja brilhante, mas sim que ele tenha sorte, deduz-se que uma pessoa com sorte tem tudo. Mas, ao vermos Chris em primeiro plano, isolado e angustiado naquela cena familiar e alegre da qual ele deveria participar, podemos também concluir como Dostoievski em seu clássico livro: “O castigo pelo crime amendontra muito menos o criminoso [...] porque ele mesmo o reclama moralmente”. Chris pode ter tido a sorte de não ser descoberto, mas será que terá a sorte de esquecer?

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