terça-feira, 6 de outubro de 2009

Há tanto tempo que te amo

Há tanto tempo que te amo (2009)




Branca Moura Machado – 07/07/2009



A música que toca ao final de “Há tanto tempo que te amo” diz: “Porque do tempo que passa nos resta pouco e do tempo perdido não nos resta nada.” Para algumas pessoas, talvez, seja esta a intenção: perder tempo e não reter nada dele.

Este é o caso de Juliette (Kristin Scott Thomas) que acaba de sair da prisão, após 15 anos. Sobre o tempo que passou por lá, comenta: “Na prisão, chamavam-me de ausente. Eu dava a impressão de não estar ali”. Juliette não queria mesmo estar no mundo e a prisão foi o modo que escolheu para se livrar dele.

Léa (Elsa Zylberstein), sua única irmã, vai buscá-la no aeroporto e recebê-la em sua casa até que Juliette se ajuste à nova vida. As irmãs passaram quase quinze anos sem se ver e há um grande desconforto neste contato inicial, apesar dos esforços de Léa.

Quando Juliette fica sozinha na casa da irmã, ela apalpa o sofá, olha pela janela, acaricia os livros. Como se reconhecendo um mundo ao qual não tinha mais direito. Ela cometeu um crime impronunciável. Impronunciável até mesmo para o diretor Phillipe Claudel. Que mantém o crime em suspense durante todo o início do filme. Para ele, também é difícil escancarar o que Juliette fez. Sabemos que o que ela fez foi grave quando, por exemplo, o marido de Léa comenta: “Você mal a conhece. Ainda era criança quando ela...” E ele não consegue terminar a frase.

Juliette quase não fala. Há muitos closes da personagem. A intenção é salientar suas expressões, já que ela é de poucas palavras. Ela deixou muitas dúvidas e não faz muito esforço para esclarecê-las. E, algumas vezes, suas reações nos parecem sem sentido, mas indicam muita coisa.

Há cenas leves que terminam tensas, contribuindo com o suspense. Como quando a sobrinha mais velha apresenta seu quarto para a tIa Juliette e, antes disso, retira a irmã caçula do ambiente e comenta: “As irmãs caçulas não são fáceis”. Depois, mostra seu diário e explica: “Este é o meu diário secreto. Mas não é tão secreto porque largo por aí e todo mundo lê”. Tudo está bem até que a tia grita com a menina quando esta lhe pede para contar uma história. Todos ficamos chocados com a reação de Juliette. E com uma pulga atrás da orelha. O suspense aumenta no diálogo entre a personagem e sua agente social: “Você não falou nada durante o processo. O relatório final tinha 20 linhas.” E a protagonista responde: “Se não falei nada à época, por que acha que vou falar para você?”

O filme lembra “A vida dos outros”, “O visitante”, entre outros no sentido de assistirmos à transformação da protagonista ao entrar na vida da irmã. Aos poucos, ela vai se abrindo, o gelo vai se quebrando e ela passa a viver novamente. Juliette guardava um segredo e quando a irmã a confronta ela explica: “explicar é procurar desculpas e não há desculpas para a morte.”

Roberto Pompeu de Toledo, em sua crônica sobre os jovens que cedo foram à lua, comenta que deles foi roubado o princípio basilar da esperança de que o importante ainda está para começar. Juliette passou 15 anos de sua vida como estes astronautas, ou seja, na percepção de que o melhor já passou ou o que tinha de pior já aconteceu e não há mais nada para se olhar. Mas, ao reencontar a irmã e aos poucos se sentir em família, talvez haja sim uma ponta de esperança. Afinal, como ela mesma diz, ela está aqui. Está de volta.

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