sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Noites de Tormenta

Noites de Tormenta (2008)


Branca Machado – 20/10/2008


Entre 1932 e 1946, Hollywood viveu sua época de ouro. Isso se deveu à fórmula de organização da economia cinematográfica americana que já vinha se delineando desde os anos 20. A combinação do star system , studio system e divisão dos filmes em gêneros diferenciados foi a grande causadora dessa ascensão hollywoodiana.

Neste contexto, surgiu o melodrama, um gênero típico da “idade de ouro” da “cidade do cinema”. Como gênero, ele possui um repertório de elementos constantes, trabalhados de maneira específica. Ocorre a apropriação de elementos da narrativa cinematográfica no sentido de caracterizar o filme como melodramático (trilha sonora, iluminação, interpretação, enredo).

O filme “Noites de Tormenta” de George C. Wolfe é um exemplo de melodrama romântico que segue a cartilha concretizada naquela época. E, por isso, funciona. Hollywood sabe fazer este tipo de filme. Eu sou apreciadora do estilo e já chorei muito em preto e branco ao acompanhar seus dramas. Agora, chorei colorido.

Diane Lane é Adrienne Willis. Recém separada, ela é mãe de Danny (Charlie Tahan) de 10 anos e de Amanda (Mae Whitman), uma adolescente. Jack (Cristopher Meloni) é seu ex-marido. Sabemos que ele a traiu.

Richard Gere é Paul Flanner. Médico, também separado, em conflito com a profissão, enfrenta uma crise de consciência e há um ano não fala com o filho. Paul acaba de vender sua casa. Os novos moradores o esperam à porta. Ele sai de carro e observa um pai brincando com o filho no jardim. Pela sua expressão, sabemos que aquela cena o tocou mais do que devia. Ele queria ser aquele pai. Em seguida, na barca, ele está amargurado. O rosto dele nos diz isso. O enquadramento nos diz isso.

Nas cenas iniciais, o diretor demonstra a fragilidade dos personagens em momentos delicados de suas vidas nos diálogos e na expressão de seus rostos. Eles simulam que está tudo bem, mas , quando a câmara se aproxima, eles estão amedrontados. Tais dicas nos diálogos e expressões dos personagens descrevem seu estado de espírito antes de eles se encontrarem.

Adrienne vai cuidar da pousada de sua amiga Jean (Viola Davis) no fim de semana. Localizada em Rodanthe, pequena cidade litorânea na Carolina do Norte, a pousada é mais um pretexto para que Ade possa refletir sobre a proposta do instável ex- marido que acaba de lhe pedir uma nova chance. Ela terá apenas um hóspede no período: Paul Flanner.

Paul e Adrienne são o par romântico do filme. A relação deles possui elementos do melodrama. Há conflitos, dificuldades para que fiquem juntos (o marido de Ade quer voltar para ela, sua filha pressiona para que isso ocorra, Paul está com uma viagem marcada), quando estão juntos, estão sempre sozinhos (só os dois) apesar de haver gente por perto.

A maneira com que a pousada e suas janelas azuis são enquadradas na primeira vez que aparecem em cena chega a ser literária. Lemos aquela imagem. Toda a cenografia remete à idéia de beleza, delicadeza e fragilidade. Naquela pousada, parece que tudo pode desmoronar de repente. O vento a ameaça o tempo todo. A pousada de janelas azuis é a Colina Penistone Crag de Heatchcliff e Cathy em “Morro dos Ventos Uivantes”; ou a Paris de Richard e Ilsa em “Casablanca”.

A clássica narração circular do melodrama romântico é outro elemento encontrado em “Noites de Tormenta”. Ao longo da história, trabalham-se temas que serão retomados posteriormente. Adrienne conta a Paul a lenda dos cavalos na praia. Esta lenda proporcionará um momento poético e um fechamento clássico para o drama do casal. A tormenta, prevista para aquele fim de semana em Rodanhte, ocorre. O amor de Ade e Paul se realiza. A tempestade simboliza o estado de espírito do casal ou, quem sabe, prenuncia o futuro. Ela faz parte da história deles e marcará momentos de virada no filme.

A paixão de Ade e Paul nos emociona. Trata-se de um sentimento mágico, doce e reconfortante. Assisti-lo, faz a gente relembrar, pensar e, por alguns instantes, ser Cecília (Mia Farrel) de “A Rosa Púrpura do Cairo”. Cecília ia ao cinema repetidas vezes para se encantar. Aquelas histórias lhe traziam esperanças. Faziam-na lembrar e reelaborar sua própria vida. Em um melodrama, o importante é ressaltar a ilusão de realidade e, para isso, o cinema é o melhor veículo. Com esta ilusão, saímos do filme, interpretando nossas histórias de forma mais bonita.

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