quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O Último Rei da Escócia

O Último Rei da Escócia (2006)
Branca Machado – 10/02/2007

Em 1970, Nicholas Carringan (James McAvoy) se forma em Medicina na Escócia e, entediado, resolve “brincar” com o globo terrestre e “vai para o primeiro lugar que parar”. Na verdade, ele já sabia para onde queria ir, pois o Globo pára primeiro no Canadá; em segundo, Uganda. Ele vai para Uganda como oficial médico estrangeiro.

Nicholas chega a um país esperançoso onde o ex-ditador Milton Obote acaba de ser deposto. Em seu lugar, nada mais nada menos que Idi Amin (Forest Whitaker). Nicholas está bem motivado na África. “Curte” tudo. Vê na esperança daquele povo em seu novo presidente seu ideal como médico refletido. Ele quer fazer a diferença. E Idi Amin representa muitas mudanças positivas. Nicholas assiste a um discurso de Amin na aldeia em que trabalha. O presidente diz coisas do tipo: “Posso vestir um uniforme de general, mas, no fundo, sou um homem simples”. Naquele momento, vemos Nicholas realmente empolgado com o novo presidente e com o país.

Após esse primeiro discurso, com todos muito felizes na aldeia, há um close em Amin e a festa ao fundo. Sua expressão séria e cruel destoa daquela alegria popular cheia de esperança em tempos melhores. Trata-se de uma cena de prenúncio. É como se o diretor Kevin Macdonald nos dissesse: “Esta alegria não vai durar... Vocês não conhecem Idi Amin?”.

Nicholas, após realizar um atendimento de urgência em Amin, cai nas graças do presidente, tornando-se seu médico particular. Mas, muito além de médico, torna-se principalmente seu conselheiro. O ditador escolhe Nicholas porque “É bom ter por perto alguém que não tem medo de dizer o que pensa”. É... Mas, no caso de Amin, lembre-se de dizer só coisas agradáveis.

Se existe uma verdade universal, é que a gente se engana com as pessoas. Tanto para melhor quanto para pior. A partir de seu trabalho com Amin, Nicholas entra em um mundo de fantasia. Sua Uganda é perfeita, confortável, limpa como o hospital em que trabalha. O médico vive em um país idealizado, longe do país do ditador e suas atrocidades. Mas, aqui nos cabe refletir sobre aquela expressão “fingir de bobo para viver”. Até que ponto Nicholas realmente não sabia? Lembrei-me também da secretária Traudl Junge de “A Queda! As últimas horas de Hitler”, será que é mesmo possível não perceber as barbaridades praticadas por seu patrão ou sua situação está confortável e é melhor não ver?

O filme é repleto de boas atuações a começar com Forest Whitaker que, inclusive, ganhou o Oscar de melhor ator por seu desempenho. James McAvoy dá um ar de inocência e estupefação ao seu jovem Nicholas perfeitos para o personagem. O ministro da saúde de Amin nos comove só pelo olhar.

Ao final, o longa muda de ritmo e sua montagem lembra uma viagem alucinógena, uma espécie de vídeo clipe. Parece que o caos interior de Nicholas é externado por meio da câmera, da música e das cenas rápidas. Esta mudança é muito útil ao discurso do filme. Ela nos puxa em um movimento de espiral para a verdade cruel.

Estamos assistindo à África retratada em muitos filmes ultimamente. “Diamante de Sangue”, “O Jardineiro Fiel”, “Hotel Ruanda”; todos mostram uma África perdida, explorada por dentro e por fora, sem sinal de solução. Mas, por mais que a gente saiba que há “patrocínio” externo, é difícil engolir uma guerra civil. Como uma tribo não se reconhece na outra? Por que, de repente, seu vizinho torna-se seu inimigo mortal? Em uma discussão, Amin questiona Nicholas: “O que você veio fazer na África? Brincar de homem branco com os nativos? Pois, nós não somos brinquedos, somos reais!” Nesta África real, talvez, a resposta seja simples como a do personagem de Leonardo DiCaprio em “Diamantes de sangue”: “ I.E.A! Isto é a África!”.

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