O Quarto ao Lado, de Pedro
Almodóvar, trata de um tema que esteve na pauta recente da imprensa brasileira:
a morte assistida. Em outubro, o poeta, filósofo e letrista de canções Antônio
Cícero, por ter sido diagnosticado com Alzheimer, optou por fazê-la.
Para isto, foi à Suíça, onde, devidamente justificada, a morte assistida é permitida. Antônio refletia sobre o tema. tanto que, em 2008, escreveu em um artigo para a Folha de São Paulo: “Como já dizia Sêneca, o sábio vive tanto quanto deve, não tanto quanto pode, pois o que lhe importa é a qualidade, não a quantidade de vida. Ora, se nem sempre a melhor vida é a mais longa, sempre a mais longa morte é a pior”.
Esta é a busca de Martha (Tilda Swinton) no filme: evitar a longa morte. Conforme explica: “Acho que mereço uma boa morte”. No vencedor do Festival de Veneza deste ano, Martha e Ingrid (Julianne Moore) foram grandes amigas na juventude e trabalharam juntas na Paper Magazine. Depois, cada uma seguiu seu caminho: Martha tornou-se repórter de guerra e Ingrid, escritora.
Na primeira cena, acompanhamos Ingrid na sessão de autógrafos de seu livro mais recente em uma livraria de Nova York. Ela encontra uma amiga que conta que Martha está realizando um tratamento de câncer e Ingrid resolve visitá-la no hospital.
Não à toa o livro que ela acabou de lançar tem o objetivo de “entender e aceitar a morte”. Ingrid se interessa sobre o tema. Por todo o tempo, acompanhamos as duas amigas nesta reflexão. Elas enchem a tela, com suas roupas coloridas, diálogos interessantes e o gosto por livros, filmes, viagens e boas histórias. Para mim, é um filme que diz mais sobre a vida que sobre a morte.
Em certo momento, Martha reflete: “Todos querem que você continue lutando, você contra a doença; o bem contra o mal.” Mas, naquela guerra, ela já era incapaz de escrever qualquer coisa, ou de se concentrar em um bom livro; e isto, para Martha, já não era mais lutar pela vida: “Eu fiquei reduzida. Resta pouco de mim mesma.”
Novamente, percebemos que amizades
podem ser mais fortes que laços familiares. A empatia nesta relação, talvez, esteja
mais livre de outras questões morais e, por isto, seja maior. Não fica difícil
entender a escolha de Martha e a personagem, bem como a firme e serena atuação
de Tilda Swinton, contribuem muito para isto. Ficamos também admirados com o
apoio de Ingrid. Para ela não está fácil, mas ela está lá. No quarto ao lado.
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