sexta-feira, 16 de junho de 2023

Sem Ursos

 


Sem Ursos é um filme iraniano de drama escrito, produzido e dirigido por Jafar Panahi. O diretor, que ganhou prêmios nos festivais de Veneza e Berlim, foi condenado a seis anos de cadeia, em 2010, por fazer propaganda contra o governo, mas conseguiu liberdade condicional. Ele foi também impedido de sair do país e proibido de dirigir filmes por vinte anos. Mesmo assim, Panahi já dirigiu filmes após a condenação. Sem Ursos é o mais recente.

É importante contextualizar a vida do diretor porque, no filme, ele praticamente faz papel dele mesmo. Assistimos a um cineasta, interpretado pelo próprio Panahi, dirigir um filme a distância por meio de videochamadas. O personagem se encontra em um vilarejo localizado na fronteira do Irã com a Turquia e está em um conflito: sem saber se atravessa e começa uma nova vida ou se fica no Irã, apesar de todas as adversidades. Conforme escreve o jornalista Marcelo Müller em sua coluna no site Papo de Cinema “Ora, um homem impedido pelas autoridades de sair do país flertando com a esperada subversão da sentença que lhe foi imposta naturalmente gera tensão.”

O vilarejo representa o que há de mais tradicional e arcaico no país. E, pelos dias vividos por Jafar ali, dá para perceber a opressão estrutural que esta tradição impõe. O diretor é o contraponto de todos aqueles costumes naquela pequena comunidade (ou será o contraponto de quase todo o país?). Pelas dificuldades que passa ali, sabemos que, por muitos motivos, seria mais fácil ele cruzar aquela fronteira. Mas, por algum motivo, ele segue tentando.

É a esta tentativa que assistimos de forma paralela: Tanto na rotina e convivência dele naquele vilarejo, quanto na trama que aparece no filme que ele insiste em terminar a distância. Ele é persistente. Para ser ele, é preciso ser.

Marcelo Müller comenta  “Desde que se tornou persona non grata pelo regime autoritário do Irã, o cineasta Jafar Panahi tem feito um cinema pautado por signos de resistência.” Sem Ursos é mais um destes signos. É um registro de dogmas religiosos, opressão e costumes que, para nós, nem seria mais possível existir. Ainda bem que temos Jafar para nos alertar. 


PS: Assisti ao filme Sem Ursos em uma das salas de Cinema do Centro Cultural Unimed-BH, localizado no Minas I e aberto ao público. O espaço é uma grata surpresa e uma boa dica para quem está em Belo Horizonte. Sala nova, pequena, imagem excelente. Perto da Praça Liberdade, a sala tem uma boa localização e um charmoso café. Além disso, conta com uma com Galeria de Arte, Biblioteca e Teatro.

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