Pinóquio, de Guilherme de Del Toro, vencedor do Oscar 2023 de animação, é um filme bem mais sombrio que a versão da Disney de 1940.
A assinatura do diretor está na história. Sabemos que é um filme dele. E isto é bom. Com a vitória neste ano, Del Toro se tornou a primeira pessoa a conquistar os prêmios de Melhor Animação, Melhor Direção e Melhor Filme na história do evento. As duas últimas condecorações vieram com o drama fantástico “A Forma da Água”.
Pinóquio, cuja história foi escrita pelo italiano Carlo Collodi em 1883, já teve diversas versões e o fato de o diretor ganhar o Oscar por mais uma delas engrandece, ainda mais, sua conquista.
A história originalmente era mais sombria. A versão popularizada pela Disney foi abrandada para um público mais infantil. A de Del Toro, não.
Nesta versão, vemos uma Itália violenta e cruel, permeada pela 2ª Guerra e o fascismo. Mussolini inclusive aparece no filme. Pinóquio não tem refresco e nunca se torna um menino de carne e osso; é sempre um boneco de madeira que fala.
E é por isto que chama a atenção: por ser um boneco que fala. Para isto vai para o circo das excentricidades, juntar-se à mulher barbada e ao homem borracha.
É tratado como pária. Hostilizado por todos. Gepeto também é duro com ele, ao mesmo que tem uma vida bem dura. Ele perde seu filho por causa da explosão de uma bomba durante a Guerra. E esculpe Pinóquio em um momento de muita dor. O boneco é mais que tudo uma expiação.
A animação em stop-motion inclui Pinóquio se juntando ao exército italiano juntamente com o filho de um alto militar fascista que fica exultante ao ver o menino se juntar aos militares. A crítica a momentos reais e não fabulares traz a história para uma reflexão bem concreta.
Não é a primeira vez que Del Toro aborda o assunto em suas obras. E, sobre o fascismo, pontua: “É um tema que me preocupa porque é algo ao qual a humanidade parece sempre voltar.”. O diretor nos apresenta imagens belas, compostas de forma cuidadosa, com o contraponto de passar um alerta do que não pode ser esquecido. É uma fórmula que traz o encanto da imagem, do traçado; em contraste com a dureza do que é contado. Del Toro sabe trabalhar este contraste como poucos. Com ele, esta fórmula funciona muito bem.
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