quinta-feira, 29 de agosto de 2024

A Pior Pessoa do Mundo

 

O filme “A pior pessoa do mundo” é uma comédia dramática norueguesa que concorreu aos Óscares de melhor filme estrangeiro e roteiro original em 2022. Sua história aborda um momento de autoaprendizado e mudanças na vida de Julie (Renate Reinsve), que, ao longo da trama, completará 30 anos. Dividida em 12 capítulos mais um prólogo e um epílogo, a trama mostra a protagonista, assumindo as incertezas em sua vida. Julie está tentando se encontrar, e, com isto, desiste da faculdade de medicina por descobrir que “gosta da alma e não do corpo”. Mas, por ser uma pessoa visual, também não quer a psicologia, e, assim, resolve tentar a fotografia. Às vezes, escreve artigos. Para se sustentar, trabalha numa livraria. Como a boa aluna que foi, com notas excelentes, o caminho óbvio seria a medicina. Mas ela assume que nem sempre o óbvio é o que nos realiza. Em determinado momento, ela conhece Eivind (Herbert Nordrum) e o questiona: “Você não vai fazer as perguntas de sempre? Ele rebate: “Quais?” Julie cita: “Quem é você? O que faz da vida?”. Aos 30 anos, ela sente a forte pressão para saber tais respostas. O filme é criativo com utilização de diferentes recursos narrativos e tem uma trilha sonora impecável. Em determinado momento, o diretor Joachim Trier optou por congelar os personagens para que Julie tenha um momento romântico no qual, para ela, o mundo realmente para. Em outra situação, a narradora resume como viviam as mulheres da família de Julie, aos 30 anos de idade, por meio de porta-retratos que enfeitam a casa da sua mãe. Como escreveu o crítico Célio Silva para o portal G1 “Julie é uma protagonista humana demais”. Diz e faz coisas que nos incomodam; tem crises que compreendemos; tem conflitos com os quais nos identificamos e outros que não entendemos. Sua jornada é de busca. A atriz Mariana Xavier, em um programa da TV Brasil, afirma que autoestima “tem a ver com o entendimento de que você merece cuidado”. Merece um olhar atento sobre si. Julie se olha e busca entender quem é e o que quer. E esta busca é um cuidado que só nós podemos proporcionar a nós mesmos.

sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Ficção Americana

Ficção Americana é uma comédia dramática que concorreu a melhor filme e Roteiro Adaptado no Oscar 2024. Disponível no Prime Vídeo, o filme é dirigido pelo estreante Cord Jefferson, que é também o roteirista da adaptação do livro "Erasure” de Percival Everet.

Ficção é uma criação artística em que o autor faz uma leitura particular da realidade. Pode ser também definida como ato ou efeito de fingir. De certa forma, “Ficção Americana” abarca os dois significados em sua narrativa. Além de a obra em si ser uma ficção, o protagonista é um autor de livros ficcionais, que, ao longo da história, passa a contar uma grande mentira.

Monk (Jeffrey Wright) é um negro que não se rende aos clichês racistas da sociedade americana. Seus livros não são sobre isto. Ele se considera acima deste drama. Mas, ao se ver em um lapso criativo, ele volta para a casa materna e passa a encarar dramas que há muito queria evitar. A verdade é que estes clichês não surgiram à toa. Estão aí porque se repetiram por anos e anos na história americana.

O filme faz uma crítica a como os americanos entendem a diversificação e absorvem a cultura afro-americana. Monk é um personagem descrito pela namorada Caroline (Erika Alexander) como um engraçado triste. Quando o irmão (Sterling K Brown) pergunta, todo empolgado, se seu livro realmente vai virar filme, ele responde: “Infelizmente, sim.” Esta é a única resposta coerente para este personagem. Faz sentido. Ele se rendeu. O filme faz pensar. Reforça o que sabemos e pontua que há muito mais para ser conhecido.