domingo, 3 de dezembro de 2023

Tia Virgínia


Tia Virgínia estreou no 51º Festival de Gramado com uma trajetória de destaque: a sessão foi a mais aplaudida da edição e, algumas vezes, o público parou para aplaudir uma cena. O filme levou 5 prêmios, incluindo Melhor Roteiro e Melhor Atriz. 

O filme começa com Virgínia (Vera Holtz) dando corda em um relógio e acertando meticulosamente seus ponteiros hora por hora. É este tempo do relógio, que ela acerta, que vamos acompanhar no desenrolar de um dia dentro da casa em que ela vive com a mãe inválida. 

É dia 24 de dezembro e ela aguarda as irmãs que moram fora e estão vindo para a ceia de Natal. A cuidadora não foi trabalhar e Virgínia inicia a árdua rotina de cuidados com a mãe, enquanto espera, com certa ansiedade, o restante da família chegar. A rotina da casa parece ser bem parecida todos dos dias. E, nós, como espectadores, não saímos dela. Ficamos ali o tempo todo.

Com a chegada das irmãs e de dois sobrinhos, todos os personagens passam a conviver e trocar informações com as quais a gente monta uma dinâmica familiar que revela focos de tensões entre os personagens. Como em praticamente todas as famílias, o encontro de Natal não é assim um momento tão acolhedor como, a princípio, pareceria ser.

Logo que chega, Valquíria (Louise Cardoso) elogia a forma como a irmã cuida da casa. Mas, 10 minutos depois, ela troca os móveis de lugar, sem nem consultar Virgínia, que, afinal, mora ali. Vanda (Arlete Salles), ao entrar, começa a lembrar-se do pai e a ficar emotiva, mas logo é confrontada com o fato de que não compareceu ao seu enterro. São cobranças guardadas, ressentimentos antigos, que, naquele ambiente nostálgico, e, de certo modo, claustrofóbico por carregar tantas lembranças, encontram um ambiente fértil para aflorarem.

Em muitos momentos, identificamos algumas situações com nossa própria família e chegamos a achar graça. Mas, no fundo, incomodamo-nos com a manipulação em cima de Virgínia que, em tese, deve se sentir grata por morar naquela casa de graça e cuidar da mãe. As irmãs chegam a questionar os gastos; os quais têm achado muito altos.  

O filme surpreende com seu desfecho, de muitas formas, libertador e revolucionário. E nós saímos com a sensação de que temos que olhar mais de perto para as "Tias Virgínias" de nossa família. Elas possuem aspirações e interesses que não devem ser negligenciados. 

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