quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

O Gambito da Rainha (2020)


 “O Gambito da Rainha” tornou-se a minissérie roteirizada mais assistida na história da Netflix. Segundo a empresa, a produção foi vista por 62 milhões de usuários, em seus 28 primeiros dias desde a estreia. A busca por "como jogar xadrez" duplicou no Google neste período e o livro de Walter Tevis, que inspirou sua adaptação, retornou à lista de best sellers do New York Times. 

A história inicia-se em um orfanato no estado de Kentucky (EUA), nos anos 1950, no qual Elizabeth Harmon (Anya Taylor-Joy) descobre um talento impressionante para o xadrez ao jogar no porão com Sr. Shaibel (Bill Camp), o zelador, ao mesmo tempo, em que passa a fazer uso de tranquilizantes; que eram prescritos às crianças naquela época.  Assim, acompanhamos o crescimento da protagonista, em meio à descoberta de sua genialidade no jogo e sua dependência crescente em tranquilizantes. 

Apesar de Beth ser uma personagem dura, que não se vitimiza, nós passamos a gostar e torcer por ela. E esta torcida vai para os dois jogos que ela tem de enfrentar: o da vida, que, até então, não trouxe muita sorte para a garota; e o da sua trajetória de sucesso no xadrez, no qual o primeiro pode dar um xeque mate. A personagem tem algo de "o médico e o monstro", com sagas paralelas e discrepantes, às quais assistimos com emoção e apreensão.

A escolha do nome "Gambito da Rainha" deve-se ao movimento no xadrez de sacrificar temporariamente um peão para obter o controle do centro do tabuleiro. O jogador sacrifica algo logo no início do jogo para chegar à vitória depois. Podemos dizer que Beth usa tal estratégia não apenas no jogo, mas também em sua trajetória pessoal.

A série retrata o universo do xadrez, jogadores e competições como um mundo à parte, ao qual somos apresentados. Em uma cena memorável, Beth, é colocada à prova em uma simultânea no clube de xadrez do colégio. Com 09 anos, ela joga com 12 meninos ao mesmo tempo e ganha. Sinceramente, eu nem sabia que as simultâneas existiam.

Acompanhamos, assim, uma órfã, que, jovem e mulher, passa a competir e brilhar em um meio altamente masculino. Sua mãe adotiva, Alma (Mariele Heller), recém divorciada, a acompanha. Nos anos 50, as  duas são outsiders. Elas apoiam-se uma na outra e encontram ali a forma de ficar mais forte no "jogo". Não é só com Alma que Beth pode contar, mas também com Jolene (Moses Ingram), sua amiga no orfanato e muitos outros que conheceu por meio do jogo. A série trata de vários subtemas sem dramatizá-los ou romantizá-los. Exatamente como o xadrez deve ser jogado.

Segundo o "El Pais", um dos melhores jogadores do mundo, Garry Kasparov, afirma que nunca tinha visto uma série que respeitasse tanto as estratégias e os tempos do xadrez "é a mais realista das pouquíssimas obras já feitas sobre um esporte que, definitivamente, é pouco visual". Só por isto, ela já merecia aparecer como dica por aqui. Mas ela é muito mais, ela retrata personagens complexos, nada maniqueístas, tentando ganhar este jogo que é a vida. E este é um jogo que todos nós conhecemos.

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