Branca Moura Machado
O Estagiário é um filme de 2015 que está disponível no Netflix. Em tempos de isolamento,
sem poder ir ao cinema (...), nossas opções são caseiras e este filme é uma surpresa boa e
leve na quarentena. Além disso, ele aborda alguns assuntos que temos tratado sobre o profissional do futuro, competências, reaprendizado e propósito.
O filme ficou entre os 10 mais vistos no Brasil quando foi lançado no streaming e conta a
história de Ben Whittaker (Robert de Niro), um viúvo de 70 anos que não achou a aposentadoria tudo aquilo de bom que as pessoas falam. Assim, ele se candidata a estagiário sênior
de uma Startup de moda, fundada e dirigida por Jules Ostin (Anne Hathaway).
Assistimos a um Ben empolgado para o seu primeiro dia de trabalho. Separa seu terno na noite anterior, aciona o alarme que tem no criado e chega a um ambiente moderno, open space, com massagem para os funcionários entre outros diferenciais. Ele é um estranho ali, mas não se intimida com isso. Quer aprender.
Ben trabalhará diretamente com Jules, que precisa ter um estagiário para dar o exemplo, já que a contratação de seniores é um projeto do RH de sua empresa. Mas ela não quer um assistente. Não tem tempo para ele.
Apesar disto, Ben está lá todos os dias, pontual, elegante e pronto para qualquer coisa. Com uma classe que
praticamente não existe mais, ele se torna uma referência para a maioria dos colegas que pertencem à Geração
Y – millenials (regidos pelo imediatismo e pelo intenso questionamento).
O que mais chama atenção no filme é esta elegância nata de Ben, algo que não é palpável, mas que está em
todas as suas ações e é extremamente cativante. De Niro incorporou o papel muito bem. Está longe do protagonista de Touro Indomável ou Taxi Driver. Em certo momento do filme, ele ensina a seus colegas a importância
de se carregar um lenço no bolso. Davis questiona: "Qual é a do lenço? Essa, eu não consigo entender." E Ben
responde: "É essencial. E sua geração não saber disso é um crime. As mulheres choram, Davis. Tenha um lenço
para elas. É um dos últimos vestígios do cavalheirismo.".
Para conseguir o estágio, Ben teve que gravar um vídeo e encaminhar aos recrutadores. Só para se candidatar,
ele já teve que aprender. Conforme salienta Edlaine Pontes, professora do IBDEC , há dois componentes no filme,
contrários ao imediatismo e à ganância atuais: a ideia de que um senhor de 70 anos pode ser fundamental para
o bom funcionamento de uma empresa; e a ideia da paixão que envolve o trabalho, paixão sem a qual o fazer se
torna mecânico. Segundo a professora: "Ben, agora estagiário, por muito ocupou um cargo de liderança em uma
época que não havia tecnologia, mas havia negociação, valores morais e estratégia, e ele começa a compartilhar
de forma suave sem imposição, como um mentor, e todos começam a ver relevância em seus conhecimentos".
Uma pessoa assim sempre será importante. Trata-se de um senhor de 70 anos que possui várias habilidades de futuro. Tais habilidades, na verdade, são muito mais relacionadas com a vontade do que com a idade. A
maior lição do filme, talvez, seja a de que a disponibilidade para aprender, ensinar e reaprender são temas atuais
para qualquer geração.
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