quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Samba (2014)


      


        Branca Machado - 08 de agosto de 2015

        A primeira cena de Samba se passa em uma festa de casamento na qual os convidados dançam alegres num salão. Em determinado momento, a câmera segue o enorme bolo sendo carregado até a cozinha. Sem cortes, passamos por corredores e ambientes com vários tipos de funcionários, chegando, finalmente, ao último ambiente deste grande salão, onde está Samba (Omar Sy); que lava a louça. O plano sugere que, nas camadas sociais ali contidas, Samba, como pobre imigrante ilegal, está no último nível. Há um grande contraste entre o salão e a cozinha e, até mesmo, dentro da própria cozinha. De certa forma, são os contrastes existentes no país. 
        A partir desta cena, passamos a acompanhar Samba, que tenta se legalizar na França há 10 anos. Sua ambição é ser assistente de cozinha, como seu tio, que já é legalizado. Samba é senegalês e acaba detido pelo governo por falta de documentação. Neste momento, passamos também a acompanhar Alice (Charlotte Gainsbourg), uma executiva que está em tratamento de saúde e, por isso, torna-se voluntária em uma ONG que ajuda imigrantes ilegais. Alice conhecerá Samba na detenção ao tentar ajudá-lo. 
       Dirigido pela dupla de roteiristas e diretores Olivier Nakache e Eric Toledano, também responsáveis por Intocáveis de 2011 e novamente estrelado por Omar Sy, o filme é baseado no romance de mesmo nome da escritora Delphine Coulin. Basicamente, o que vemos é o drama comum aos imigrantes ilegais às voltas com subempregos e sempre com medo de serem descobertos e deportados. Da mesma forma que a relação entre o enfermeiro e o paciente em Intocáveis, o encontro entre Samba e Alice transformará a vida de ambos. 
       Na sede da ONG, vemos russos, árabes, africanos. Muitos não falam francês, alguns falam um pouco, mas, em comum, todos querem ficar no país. Vemos também uma Paris desconstruída. Os pontos turísticos aparecem de forma marginal como quando Samba realiza a limpeza das janelas  de um edifício no La Défense, próximo ao Grande Arco; ou, quando enxergamos uma parte da Torre Eiffel, enquanto o personagem trabalha na fachada de um prédio. Os imigrantes definitivamente não estão a passeio. 
     Samba é um filme bem trabalhado que trata de um assunto delicado na França.  É interessante conhecer o trabalho da ONG e assistir à dinâmica do relacionamento desses imigrantes com os cidadãos franceses. E, principalmente, descobrir que,  apesar de tudo, é possível surgir amizades e, quem sabe, amor, no meio de todo o drama. Ao mesmo tempo em que se é estrangeiro e ilegal, os imigrantes vivem naquele país, relacionam-se. E, à medida que se relacionam, tornam-se menos estranhos no país em que escolheram viver. 

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