Branca Machado – 01/09/2013
Pensar não é fácil. Assumir
responsabilidades, então, é coisa para notáveis. Melhor seria apenas obedecer.
Fazer como o operário de Chaplin em Tempos Modernos: simplesmente apertar o
parafuso. O “para quê” não importa. Esta é a premissa na qual Hannah Arendt se
inspirou para escrever “Eichmann em Jerusalém - Um Relato sobre a Banalidade do
Mal". O livro surgiu dos artigos que a professora escreveu para a New
Yorker após testemunhar o julgamento de Adolf Eichmann, um dos últimos
líderes nazistas do alto escalão ainda vivo, em maio de 1960, em Israel.
Escrever
o que concluiu após o julgamento, externar seus pensamentos não foi fácil para
ela. Dizer o que se pensa tem um preço. O não pensar também. Em tese, o não
pensar fez de Eichman cúmplice de um
assassinato coletivo com milhões de
vítimas. Conforme suas palavras, retratadas em imagens documentadas à época: “Eu
era um intermediário. Agi conforme fui instruído. Eu segui ordens. Se eles
iriam morrer ou não, eu estava seguindo ordens. Eram decisões administrativas.”
Por estas afirmações e postura do acusado, Hannah concluiu que o réu era medíocre, mas não um monstro; e, de
certa forma, isso a decepcionou. Sobre Eichman, Hannah comenta: “Ele é
totalmente diferente do que imaginei. Um ninguém. Eichman não é um Mefisto.”
Adolf
Eichman foi capturado em Buenos Aires. Seu julgamento seria realizado Israel.
Hannah, refugiada judia alemã, queria
assistir. Para isso, escreveu ao diretor da New Yorker e pediu para cobrir o
julgamento sob o pretexto de que nunca havia visto um nazista em carne e osso.
Ela saiu da Alemanha em 1933 por que seus projetos na faculdade estavam sendo
rejeitados pelo fato de ela ser judia.
Por
pensar diferente, Hannah criou polêmica. Foi acusada de trair os judeus. Mas,
conforme as palavras da diretora Margarethe von Trotta, “se existe uma
mensagem neste filme, é que você deve pensar por si mesmo, não seguir uma ideologia
ou moda. Hannah chamava a isso 'pensar sem corrimões'."
O
filme salienta o brilhantismo e o respeito com a professora. O diretor da New
Yorker comenta, admirado e honrado, quando recebe a carta de Hannah: “ Ela
escreveu As origens do totalitarismo!”. O colega da universidade comenta
com ela, que está apreensiva sobre o julgamento: “Para um gênio como você,
tudo fica simples.” Após a publicação dos artigos sobre o julgamento,
escreveram sobre ela: “A perversidade da genialidade”. O que mais
salienta sua notabilidade é a interpretação de Barbara
Sukowa, que faz uma Hannah a quem gostamos de ouvir, mesmo não concordando com
ela. O filme possui alguns flashbacks desnecessários que mostram a
professora jovem como aluna e amante de Heidegger. O recurso provavelmente foi
usado por que a diretora queria fazer um filme sobre a filósofa e não sobre o
episódio. Mas o fato é que o filme é sobre aquele episódio e a tese que se
originou dele.
Em
sua defesa, Hannah explicou que ela tratava do mal cometido por homens que se
recusam a ser pessoas. Recusam-se a pensar. Abdicaram-se da consciência. E,
neste caso, o ser humano torna-se supérfluo. Daí, a banalidade do mal. Ela não
perdoou Eichman, ela procurou entendê-lo. A impressão que se tem é que ela viu
de fora, enquanto deveria ter visto de dentro. Pelo menos, era isso que a
maioria de seus colegas e amigos esperava dela. Arendt foi uma mulher
brilhante que escolheu o personagem errado. E, por escolhê-lo tornou-o mais
palatável. Mas a verdade é que, de palatável, Eichman não tinha nada.
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