Branca
Machado – 23/11/2012
Argo
seria o nome de um filme de ficção científica no final dos anos
70, se seu roteiro tivesse sido escolhido pelos produtores de
Hollywood. Mal sabia sua autora, que sua obra teria uma utilidade e
um peso histórico muito maiores e, muito menos, que, anos depois,
Argo seria realmente o nome de um filme. Mas não de ficção e sim
de uma produção baseada em acontecimentos reais.
A
história, dirigida por Ben Affleck, conta fatos ocorridos no Irã
em 1979. Fatos esses tão inacreditáveis que só acreditamos por que
aconteceu. O filme se inicia com um breve resumo histórico do país.
Com quadrinhos, story
boards
e imagens documentais ele vai do império persa ao golpe, apoiado
pelos E.U.A, contra o
presidente Mohammad Mosaddeq e sua substituição pelo xá
Reza Pahlevi. Em 1979, a
população depôs Pahlevi. Aiatolá Khomeini tomou o poder. Queriam
fazer um acerto de contas com o xá. Os americanos tinham dado asilo
político para ele. A população, então, invadiu a embaixada. E
esta é a situação, a partir da qual, o filme contará sua
história.
A
embaixada americana foi invadida, fizeram 52 funcionários reféns,
mas, neste meio tempo, 06 diplomatas fugiram para a casa do
embaixador canadense e deveriam ser resgatados de lá o mais depressa
possível,antes que os autoridades iranianas descobrissem a ausência
deles. Para isso, a CIA pensou em diversas estratégias
extravagantes: fuga de bicicleta para as fronteiras, diploma de
professores. E acabaram resolvendo pela “melhor da piores ”: A
produção de um filme em terras exóticas.O
agente Tony Mendez ( Ben Affleck) contou com a ajuda do maquiador
John Chambers (John Goodman) e do produtor Lester Siegel (Alan Arkin)
para simular a existência dessa produção, A busca pela locação
justificaria a presença da equipe de filmagem no Irã. Equipe que,
na verdade, seria formada por Mendez e, posteriormente, pelos seis
diplomatas, que assumiriam os papéis de integrantes do projeto. Para
esta farsa funcionar , até uma leitura para imprensa daquele roteiro
“rejeitado” foi realizada por atores. Sua campanha publicitária
foi publicada em revistas. Em entrevista a revista Istoé, Affleck
salienta que o filme demonstra “ O poder que se tem o ato de contar
histórias”. Que não deixa de ser o próprio poder do cinema,
O
ponto alto de Argo é o contraste entre o núcleo americano e o
irariano. Ele gera um ótimo equilíbrio entre a tensa situação no
Irã e o clima de farsa de Hollywood. Ao procurar Chambers para lhe
fazer a proposta do plano, Mendez pergunta sobre o que ele está
filmando. O maquiador responde: “Um
filme com monstros”.
O agente replica: “É
bom?”.
O outro responde: “O
público-alvo vai detestar”.
Mendes, curioso: “Quem
é o público-alvo?”
Chambers conclui: “Pessoas
com olhos”.
Ainda em Hollywood, na coletiva com a imprensa, quando se diz que as
filmagens serão no Irã, o jornalista, incrédulo, pergunta: “Irã
com ã?”Em
contrapartida, quando Mendez vai pegar seu visto em Istambul,
assistimos com apreensão ao atendente rasurar o carimbo, consertando
de “Reino do Irã “para “República Islâmica do Irã”. Seu
olhar desconfiado, as cores mais cinzas do núcleo oriental; tudo
isso contribui para este contraste interessante.
Ao
final, John Chambers comenta com Lester: “A história começa com
uma farsa e termina com uma tragédia. Ou seria o contrário?” .
Quem fez esta afirmação foi Marx, numa metáfora com o teatro,
afirmando o contrário, a propósito da repetição histórica, que
os acontecimentos, as personagens e as formas de governo começam
como tragédia e terminam como farsa. Conclusão melhor para o filme
não há.