Branca Machado - 21/05/2017

Cinco anos depois, encontramos o escritor em sua casa em Barcelona. Daniel cancela compromissos, não quer comparecer a nenhuma premiação e não criou mais desde que recebeu o Nobel. Mas, neste dia, recebe uma carta escrita à mão, que vem de Salas, a província na Argentina onde ele nasceu. Esta carta dá início ao primeiro capítulo do filme “O Convite”; que terá mais quatro: 2- “Salas”; 3-” Irene”; 4- “O Vulcão”; e 5- “A Caça”.
O convite é para que autor receba o título de Cidadão Ilustre da cidade. Ele o recusa imediatamente sob o argumento de que, às vezes, tem a sensação de que sair de Salas parece que foi a única coisa que fez na vida: “Meus personagens nunca puderam sair de lá e eu nunca pude voltar”. No entanto, pensa melhor e acaba decidindo ir. Sozinho. Sem a companhia de sua fiel secretária Nuria (Nora Navas). Quando chega a Salas, percebemos que toda inspiração para suas histórias vem daquela pequena e provinciana cidade. E, aos poucos, ele será cobrado disso por seus conterrâneos... Do orgulho ao ressentimento pelas conquistas do ex morador, ex namorado, ex melhor amigo bastam 02 dias. Além disso, Daniel não quer agradar e não querer agradar exige coragem.
O escritor é um personagem controverso, mas, à medida que convivemos naquela cidade, passamos a compreender sua satisfação em sair de lá. De certa forma, Salas lembra a Dogville de Lars Von Trier. Nada é o que parece a princípio. O provincianismo pode ser tão acolhedor quanto cruel. Mas é, sobretudo, inspirador. E, se, como afirma Ariano Suassuna, “ tudo que é ruim de passar é bom de contar”, Daniel Mantovani soube tirar ótimo proveito disso.