Este é um blog sobre cinema. Mais especificamente sobre filmes de que eu gosto aos quais assisti no cinema. Por isso, seu nome é Assista-me! Escrevo tais artigos desde agosto de 2006 e pretendo continuar escrevendo pelo menos 01 vez por mês. Espero, com o blog, indicar tais filmes e também motivar uma reflexão sobre eles.
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017
Tal mãe, tal filha!
Eu tenho um caderno que uma grande amiga me deu, no qual anoto os filmes a que assisti, dou nota e classifico com estrelas.
A Manu, outro dia, foi assistir "Moana; um mar de aventuras" e não é que me apareceu com um caderninho, escreveu Moana e colocou as estrelinhas?! 05 porque ela gostou muito!
Manchester à beira mar (2017)
Branca Machado – 22/01/2017
No início de “Manchester à beira mar”, Lee (Casey
Affleck) está no barco com o irmão Joe (Kyle
Chandler) e o sobrinho Patrick, ainda criança. De forma bem-humorada, Lee quer
convencer Patrick de que ele seria a melhor opção para levar para uma ilha
deserta. O tio teria mais habilidades para proteger o garoto na ilha.
A cena contrasta com a realidade atual do
personagem que vive em Boston e trabalha como zelador. Enquanto Manchester está
ensolarada e colorida, Boston está gelada e cheia de neve. A convivência de Lee
com os moradores dos prédios que cuida não é fácil. Ele é basicamente calado e
não procura agradar. Seu chefe resume: “Você
é rude, hostil, não dá bom dia. Recebo reclamações”.
Neste princípio, a câmera acompanha o
protagonista. Não há acontecimentos paralelos. Só o passado e o presente dele.
As cenas passadas surgem de forma orgânica. Como se ele tivesse lembrando
daquilo, enquanto assistimos. Desde o princípio, percebemos que algo muito
trágico aconteceu no passado dele. Descobrimos aos poucos o que foi, na medida em
que as lembranças voltam mais fortes para o personagem, já que ele tem que
voltar à Manchester, devido à morte de seu irmão. Joe nomeou Lee como tutor de Patrick
(Lucas Hedges), que está com 16 anos.
Com os flashbacks percebemos claramente quem Lee
era e quem ele se tornou. E, por isso, ficamos mais apreensivos sobre o que
pode ter acontecido que o transformou em quem ele é. Nas cenas mais fortes, em
que notícias ruins ou acontecimentos tristes são mostrados, não escutamos o
diálogo. Assistimos de longe, acompanhados de uma trilha instrumental. Tal como
Billy Wilder afirmou: “Às vezes, é melhor
deixar o público imaginar, não mostrando as coisas. Se um pai volta para casa e
vê seu filho atropelado por um carro, em meio a um mar de sangue, é impossível
fotografar seu rosto. Filmo sua nuca e o público sente, por si mesmo, mais
coisas que o ator pode exprimir. O público deve participar de seu trabalho, não
deve permanecer passivo. ”
A cena mais impactante é mesmo aquela que
finalmente esclarece a virada na vida de Lee, ao som de Adagio em sol menor
para violino, cordas e órgão contínuo, assistimos perplexos ao que aconteceu
com o personagem e, finalmente, entendemos suas atitudes, personalidade e
silêncio. De qualquer forma, Lee quer o melhor para o sobrinho. Ele e o irmão
eram grandes parceiros e Patrick sempre fez parte de sua vida. Ocorre que Lee
sabe que o melhor não é ele. Impossível não relembrar da cena inicial em que Lee
se acha a melhor opção para acompanhar o garoto em uma ilha deserta. O arco
dramático se completa de forma pesarosa. Mas, é isso. A vida não te possibilita
sempre as melhores opções. E este filme demonstra esta realidade com muita
sensibilidade.
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