Branca Moura Machado
No início
de “A Luz entre os Oceanos”, ouvimos o som do mar e assistimos a Tom Sherbourne
(Michael Fassbender) assumir um novo emprego. O fundo sonoro já nos indica seu
futuro profissional. E a breve entrevista serve para contextualizar a plateia
das dificuldades de sua nova atividade. Ele ficará totalmente solitário por
períodos de 03 ou mais meses para cuidar de um farol na Ilha de Janus, na
Austrália. Estará a serviço da marinha britânica. Descobrimos também que Tom é
solteiro, veterano da Primeira Guerra, e que, a princípio, seu serviço será temporário;
já que seu empregador prefere um funcionário que tenha uma família. O
personagem explica por que quer trabalhar no Farol: “Só estou querendo fugir
das coisas por um tempo.” E o oficial enfatiza: “Aquela ilha não é
fácil... Você será o único ser vivo a 160 km em todas as direções.” A
partir daí, acompanharemos sua rotina na ilha e o grau de isolamento em que ele
vive. Apesar da solidão, Tom se adapta com tranquilidade: “06 meses não são
nada. Se não ficar esperando algo acontecer.”.
Durante
um retorno do personagem ao continente, ele conhece Isabel (Alicia Vikander) e
de forma natural e delicada surge uma paixão entre eles. Aprendemos a gostar do
casal. A torcer por eles. E, por isso, lamentamos o fato de eles não
conseguirem ter filhos. Não por acaso, compreendemos a decisão dos dois ao
assumir como deles um bebê que aparece num barco. Mas a vida não é tão simples
... O grande conflito da história surge quando se descobre que este bebê tem
uma mãe que o procura. Torcemos pelo casal; torcemos pela mãe. Não há vilões.
Só personagens que querem muito amar e criar uma criança. Mas não dá para
fingir que não se sabe. E Tom não quer conviver com mais um dilema moral, além
dos que adquiriu na Guerra. Foi justamente por isso que ele escolheu viver em
Janus: “Aqui, eu sou responsável apenas pela luz. Não tenho ninguém para
machucar.”. Ironicamente, foi ali que ele encontrou seu maior dilema. Michael Fassbender
interpreta o protagonista em todas as suas camadas. A plateia o compreende pelo
olhar. Reconhecemos seu sofrimento e, sobretudo, entendemos suas decisões.
O filme
trata de amor, de perdão, de perdas, de maternidade e de solidão. A partir do
momento em que nascemos, coisas acontecem e mudanças são inevitáveis; mesmo
quando se vive numa ilha. O mar traz, o mar leva e temos que nos adaptar.
Isabel em certo momento relata a Tom que perdeu seus dois irmãos na guerra e
reflete: “Quando você perde os filhos, você não fica viúva, como quando
perde um marido, você permanece mãe ou pai, mas os filhos se foram.”. E este,
talvez, seja o grande consolo de Isabel. Apesar de tudo, ela permanece mãe.