Branca
Machado – 02/07/2013
“Antes
da meia-noite” de Richard Linklater mostra o último dia de
férias de um casal e suas filhas gêmeas na Grécia, mas mostra
também o que aconteceu a Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy)
após seu reencontro em “Antes do pôr-do-sol” ou, ainda, mostra
o casal após os conhecermos em “Antes do amanhecer” e revê-los
em “Antes do pôr-do-sol”. É possível assistir e gostar do
filme sem assistir aos outros, mas é um prazer ainda maior
acompanhar a história deste casal.
Estamos
nos reencontrando. Queremos saber o que aconteceu em suas vidas
nesses nove anos. Novamente vamos assistir a uma troca de ideias
entre eles e, com ela, descobrir o que se passou na vida de Jesse e
Celine. Tudo se passa num só dia. Há pouca troca de roupa e
ambientes.
O
filme começa com Jesse e um garoto em um aeroporto na Grécia; os
quais, pelo diálogo, logo percebemos serem pai e filho. Notamos
também que eles não moram juntos. O pai mora na Europa, o filho,
nos E.U.A. O pai afirma, meio inseguro, antes do filho embarcar,
que música e esportes coletivos são importantes. Percebemos sua
tensão. Um pouco de culpa, um pouco de pesar. Quando ele diz que vai
ao recital do filho, o menino pede que ele não vá e justifica: “É
porque a mamãe te odeia demais. Ela vai ficar estressada. E, por
isso, vou ficar estressado também.”
Jesse
sai desanimado do aeroporto, enquanto Celine conversa no celular, em
frente ao carro no qual as gêmeas dormem. Ele dirige e começam a
conversar. Nesse momento, somos introduzidos a temas, como o desejo
de Jesse de mudar para Chicago e ficar próximo do filho e a mudança
de emprego de Celine, que serão retomados ao longo da história.
Neste
filme, há mais personagens que nos outros, mas, ele realmente fica
bom quando Jesse e Celine estão sozinhos. O casal ganhou uma
pernoite num hotel (sem as gêmeas) em seu último dia de férias. E
eles vão caminhando até lá, passando pelas paisagens e pontos
turísticos, observando e, principalmente, conversando. A câmera
acompanha os protagonistas a andar pela cidade. Como já fizera em
Viena e em Paris.
Marido
e esposa possuem personalidades interessantes. Como afirma Patrick ao
comentar com Jesse: “Nunca
pensei em um escritor que se vestisse assim. Mas, aí, descobri que
ele tem uma parceira que é mais interessante que ele mesmo.”
Celine está nervosa, a ponto de explodir, mas seus comentários
fazem com que a gente deseje escutá-la. Sobre Joana D´arc, comenta:
“Ela
morreu adolescente, queimada vida, virgem. Nenhuma mulher quer ser
ela.”
O que eles dizem é relevante. Assisto ao "Antes da meia-noite",
e, novamente, sinto que cresci com eles e como eles. Identifico-me
com aqueles conflitos. Como, quando no auge da discussão, Celine
comenta com o marido: “Não
tenho tempo para mim. Eu cuido de mim e de todo o resto. Os homens
acreditam em mágica. Acham que existe uma fadinha que recolhe as
meias, dá banho nos filhos, coloca a louça na máquina de lavar...”
O fato é que esse casal se ama e, como afirma Jesse, se sua relação
não é perfeita, é porque ela é real.