sexta-feira, 1 de agosto de 2025

A Garota da Agulha

 



A Garota da Agulha é daqueles filmes cujo protagonista começa em uma situação ruim e, por estar nela, realiza escolhas e decisões desesperadas que só pioram sua situação. No caso de Karoline (Victoria Carmen Sonne), a personagem principal, sua trajetória é de degradação.

O filme começa com a jovem grávida, abandonada pelo pai da criança, que também era seu chefe. Por isto, fica também desempregada. Uma história não tão incomum na vida das mulheres até hoje. Mas ela luta para sobreviver em Copenhague após a Primeira Guerra Mundial. O ambiente é de miséria, fome, indiferença e falta de perspectiva. Assim, qualquer acolhimento é melhor que nenhum. E ela é acolhida por Dagmar (Trine Dyrholm), uma mulher carismática e misteriosa, que comanda uma agência de adoção clandestina a quem Karoline passou seu bebê.

Representante da Dinamarca na disputa pelo Oscar de Melhor Filme Internacional em 2024, o filme tem uma fotografia em preto e branco extremamente simbólica e expressiva. O céu estrelado abafado por chaminés, fumaça e telhas escuras representa perfeitamente o clima da narrativa e do pós-guerra.

Não por acaso, ele é inspirado no expressionismo alemão, que surgiu em meados de 1920, época na qual a história se passa. O movimento se caracterizou pela representação subjetiva do mundo, expressando emoções internas e angústias por meio de distorções visuais e performances exageradas; todos, elementos contidos no filme.

É chocante saber que a história, inimaginável em certos aspectos, é inspirada em acontecimentos reais. Dagmar Johanne Amalie Overby realmente existiu... A Garota da Agulha não é um filme de terror. Antes fosse.

Por não ser, é muito mais aterrorizante que qualquer filme do gênero. Ele nos amedronta pela monstruosidade de uma pessoa real. Daquelas que criam um discurso de justiça para fazer o sórdido. Elas não são incomuns. Dagmar representa o extremo delas. Em seu julgamento, insiste em dizer que deveriam agradecê-la: “Fiz o que era preciso. Deviam me dar uma medalha.” Depois de tudo que acompanhamos ao longo da história, o impacto desta fala da personagem, olhando diretamente para as pessoas ali presentes (que é também onde está o nosso olhar), ecoa em nossa mente para muito depois do filme.